O primeiro semestre está chegando ao fim e o cenário econômico brasileiro só nos mostra, a cada dia, mais instabilidade. Algumas perspectivas de melhora não se concretizaram e o que vemos é um mercado inseguro, retraído e pessimista.
E para dar números a esta penumbra econômica, o Banco Central acaba de elevar a projeção de inflação para 9% em 2015 e reviu as estimativas para o PIB desse ano apontando uma retração de 1,5%.
Qualquer profissional com 40 anos ou mais sabe que já passamos por crises piores em diferentes momentos da economia brasileira. E saímos vivos de todas elas. Porém, agora temos agravantes inéditos que vão exigir mais do que jogo de cintura para a sobrevivência. O fisco está fechando todas as portas da informalidade; a classe C, que vinha sendo o novo eldorado do consumo, está endividada e só vai comprar o básico; as frentes políticas do País que deveriam buscar a convergência se comportam como fios descascados e os índices de confiança dos empresários na economia e no governo chegaram ao fundo do poço.
Creio que estamos diante de uma inevitável consolidação de empresas. Com raríssimas exceções em segmentos muito específicos, não haverá mais espaço para “barbeiragem”. Empresas com gestão ruim, desconhecimento de seus números, operação ineficiente, desatenção ao cliente e, principalmente, que acham que cortar o cafezinho é o caminho, vão quebrar (já estão quebrando, na verdade).
Mas não vejo só trevas, não. Este cenário já está propiciando a chegada de uma nova geração de empresas. Menores, mais focadas, éticas, ágeis, com gestores mais preparados, nascidas em contexto econômico amargo e, portanto, prontas para crescer e prosperar na escassez. Com elas, um novo holograma de fornecedores, clientes, parceiros e colaboradores. Quem sabe um efeito ‘Noé’ na economia brasileira.
Não há nenhuma técnica revolucionária na manga destes novos gestores. Eles estão apenas aplicando com rigor as regras da boa gestão, conhecidas há anos, mas seguidas por poucos. Porém, o grande diferencial é que estes gestores não estão apenas fazendo listas de dispensas ou cortando custos irrelevantes. Eles estão investindo nas direções corretas.
Tecnologia aderente, processos inteligentes, controle rigoroso de números, capacitação de pessoas, transparência nas relações, atenção aos níveis de serviço e respeito aos colaboradores e clientes. Esses são os componentes que vão formar o DNA da nova geração de empresas e gestores que está surgindo.
Diante disso, para o bem do Brasil, só posso dizer: bem-vinda novamente ‘crise’, bem-vinda nova geração de empresas e gestores. Como sempre, há muito a se fazer.
* Rafael Rojas Filho é Diretor da Target Sistemas
Fonte: http://portalerp.com/blogsdoportal/entry/artigos/o-desafio-de-crescer-em-tempos-de-crise-e-mercado-retraido